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LIÇÃO – 06 – A VIÚVA DE SEREPTA

Elias concluiu sua indispensável experiência com Deus em Sarepta de Sidom.

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 INTRODUÇÃO

–    Na  sequência  do  estudo  do  ministério  do  profeta  Elias,  estudaremos hoje o aprendizado de Elias em Sarepta de Sidom.

–   Em Sarepta de Sidom, Elias aprendeu que Deus tem controle sobre todas as nações, sobre o mundo da cultura e sobre a vida humana.

I – ELIAS É MANDADO PARA SAREPTA DE SIDOM

– Na sequência do estudo do ministério do profeta Elias, daremos agora uma volta no tempo e,deixando aordem cronológica, analisaremos a estada do profeta Elias em Sarepta de Sidom, ainda durante o período da longa seca sobre Israel.

–   Como estudamos na lição 4, o profeta Elias, obedecendo à voz do Senhor, manteve-se à beira do ribeiro de Querite, experimentando que Deus tinha absoluto controle sobre a natureza, a ponto de lhe mandar corvos para sustentá-lo com pão e carne duas vezes ao dia, pela manhã e pela noite, mas também era o Deus que deixava minguar a água do Querite dia após dia, como a demonstrar, como vimos, que a palavra profética proferida sobre a seca atingia o próprio profeta.

–   Quando o ribeiro secou, o profeta não saiu do local que Deus lhe havia enviado, comprovando que se trata de um genuíno e autêntico servo de Deus, pois se manteve obediente e submisso à vontade e à orientação do Senhor.

–   O Senhor, então, falou com Elias, mandando que ele fosse até Sarepta ou Zarefate, que pertencia a Sidom, pois ali o Senhor tinha ordenado que uma viúva o sustentasse (I Rs.17:9).

–   Temos aqui mais uma demonstração da fé que possuía o profeta Elias. Após ter aguentado firme, com plena confiança no Senhor, o minguar diário das águas do Querite, até a secura daquele rio temporário, agora o profeta recebe mais uma ordem divina que não fazia sentido algum. Senão vejamos.

–   O Senhor estava a mandar que o profeta se dirigisse até Sarepta ou Zarefate. Ora, tratava-se de uma cidade fenícia situada entre Sidom e Tiro e que, à época, pertencia a Sidom, como o próprio Deus fez questão de frisar. Era, pois, uma cidade que estava sob o domínio de Etbaal, o pai de Jezabel, rei de Sidom, de onde havia vindo o culto a Baal, a própria razão de ser de toda aquela seca (I Rs. 16:31).

–  Assim, depois de ter sido guardado por Deus no lugar de sua própria origem, um local onde poderia ser, pelo raciocínio humano, facilmente encontrado pelo rei Acabe, o profeta, agora, é mandado para uma cidade que era governada pelo próprio pai de Jezabel, uma terra estrangeira e que era “verdadeiro território inimigo”.

– Elias tinha, portanto, no mínimo, três importantes motivos para questionar a ordem divina. O primeiro é que, sendo israelita, estava sendo mandado para um território estrangeiro, o que era algo ilógico, uma vez que o profeta procurava a restauração espiritual de seu próprio país. Como, agora, teria de abandonar Israel? Lembremos que Sarepta era a primeira cidade fora dos limites dados à Terra Prometida na parte setentrional (Ob.20), ou seja, era uma terra estranha, que não pertenceria jamais a Israel.

– O segundo motivo pelo qual o profeta poderia questionar a ordem divina é que, além de ter de deixar Israel, teria de ser sustentado por uma viúva, ou seja, teria de entrar em contato com gentios e conviver com eles, e não eram quaisquer gentios, mas gentios que viviam sob o domínio de Etbaal e que, portanto, eram adoradores de Baal. Como poderia um profeta que lutava contra o culto a Baal ter de conviver com adoradores de Baal?

–   O terceiro motivo pelo qual o profeta poderia questionar a ordem divina era o fato de que seria sustentadopor uma viúva. Como um profeta israelita se submeteria a ser sustentado por uma viúva estrangeira? Por primeiro, uma viúva, normalmente, era pessoa despida de recursos para a sua própria sobrevivência e, portanto, se não tinha nem como se sustentar, como sustentaria ainda um estrangeiro como o profeta? Por segundo, sendo o profeta um homem de Deus, como justificar a sua convivência sob o mesmo teto com uma viúva estrangeira?

–   Apesar de todos estes motivos que permitiam ao profeta legitimamente questionar a ordem divina, o profeta não o fez. O profeta sabia que, como homem de Deus, deveria andar sob a orientação e a direção divinas e que Deus bem sabe o que faz, cabendo a nós simplesmente obedecer-Lhe, ainda que, aos olhos humanos, a orientação e ordem recebidas não façam sentido algum.

–     A fé não é uma obediência cega, irracional, como pensam alguns. A fé é confiança em Deus e acompreensão de que a lógica divina não é a nossa lógica, que os pensamentos de Deus não são os nossos pensamentos (Is.55:8,9) e que tudo o que Deus faz é para o nosso bem (Rm.8:28), motivo por que não devemos senão consciente e voluntariamente seguir-Lhe a orientação.

OBS: Recentemente, o chefe da Igreja Romana bem sintetizou este pensamento, que, por sua biblicidade, aqui reproduzimos: “…A fé é dom de Deus, mas é também ato profundamente livre e humano. O Catecismo da Igreja Católica o diz com clareza: “É impossível crer sem a graça e os auxílios interiores do Espírito Santo. Não é, portanto, menos verdade que crer é um ato autenticamente humano. Não é contrário nem à liberdade e nem à inteligência do homem” (n. 154). Na verdade, as implica e as exalta, em uma aposta de vida que é como um êxodo, isso é, uma saída de si mesmo, de suas próprias seguranças, de seus próprios pensamentos, para confiar na ação de Deus que nos indica o seu caminho para conseguir a verdadeira liberdade, a nossa identidade humana, a alegria verdadeira do coração, a paz com todos. Crer é confiar com toda a liberdade e com alegria no plano providencial de Deus na história, como fez o patriarca Abraão, como fez Maria de Nazaré. A fé, então, é um consentimento com o qual a nossa mente e o nosso coração dizem o seu “sim” a Deus, confessando que Jesus é o Senhor. E este “sim” transforma a vida, a abre ao caminho para uma plenitude de significado, a torna então nova, rica de alegria e de esperança confiável.…” (BENTO XVI. Catequese de 24 out. 2012. A natureza da fé. Disponível em: http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=287679Acesso em 10 dez. 2012) (destaques originais do texto citado).

–   Contra toda razão humana, o profeta não fez qualquer questionamento, mas foi para Sarepta de Sidom, consoante a orientação divina. No caminho para Sarepta, Elias deve ter percebido o estrago que a seca estava a fazer sobre Israel e, também, sobre os domínios de Sidom, pois a seca não se restringira a Israel. O profeta, de pronto, então notou que o Deus de Israel não era apenas Deus de Israel, mas também das demais nações.

–   Flávio Josefo (37/38-100), o grande historiador judeu, relata, em suas Antiguidades Judaicas, com absoluta clareza, que a seca não se restringiu ao reino de Israel, em trecho que vale a pena transcrever: “…Um profeta de nome Elias, da cidade de Tisbi, veio falar-lhe da parte de Deus e afirmou com juramento, que depois de se ter retirado e desempenhado a sua incumbência, Deus não mandaria mais à terra, nem a chuva, nem orvalho, durante todo o tempo em que ele estivesse ausente.(…) até que terminou aquela prolongada seca, de que o historiador Menandro fala quando narra os feitos de Etbaal, rei dos tírios, assim: Houve naquele tempo umagrande seca que durou desde o mês de Hiperbereteu até o mesmo mês, no ano seguinte. Esse soberano mandou fazer grandes peces e foram elas seguidas de um grande trovão. Foi ele quem mandou construir as cidades de Botris, na Fenícia e a de Auzate, na África. Estas palavras se referem, sem dúvida, a esta seca, que  aconteceu no reinado do rei Acabe, pois Etabaal reinava em Tiro, nesse mesmo tempo.…” (AntiguidadesJudaicas, VIII, 359. In:História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.192) (destaques originais).

–   Elias, já no caminho para Sarepta de Sidom, passava a ter a experiência de que Deus não era apenas o Deus que controlava toda a natureza, como havia comprovado durante sua estada à beira do Querite, mas também passava a perceber que Deus não era apenas um deus nacional, mas, sim, o único e verdadeiro Deus, o Deus que tinha controle sobre todas as nações, a ponto de fazer com que a seca também abrangesse os domínios de Sidom, os domínios da nação que introduzira o culto a Baal em Israel. Na própria “fortaleza de Baal”, Deus estava mostrando o Seu poder.

–   À medida que caminhava para Sarepta de Sidom e ao ver os resultados que a seca já estava a produzir, Elias tinha de aumentar a sua fé no Senhor, pois, diante do quadro de penúria produzido pela seca e que, inclusive, também atingia o reino de Sidom, tinha-se um teste na confiança do profeta em Deus, visto que, naturalmente, o que o profeta via ainda mais confirmava a implausibilidade da ordem divina, ou seja, de que era impossível que uma viúva pudesse sustentá-lo em Sarepta de Sidom.

–  Contudo, o profeta Elias, sendo um homem de Deus, não andava por vista, mas, sim, por fé (II Co.5:7) e, a cada passo que dava em direção a Zarefate, sabia que o Senhor era o único e verdadeiro Deus e que, portanto, iria continuar a sustentá-lo como havia feito até então.

–    Temos esta convicção, amados irmãos? Será que temos confiado em Deus e seguido confiantes a nossa peregrinação terrena, apesar de vermos coisas que nos fazem parecer que nada do que Deus disse acontecerá? O servo de Deus se conduz exatamente como fez o profeta Elias, pois a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se veem (Hb.11:1).

 II – ELIAS ENCONTRA-SE COM A VIÚVA DE SAREPTA

–   Chegando à porta da cidade, o profeta viu uma mulher apanhando lenha e, certamente, o Senhor lhe indicou de que se tratava da mulher que iria sustentá-lo. Esta visão do profeta, ao ver a mulher apanhando lenha, bem demonstrava que o que o profeta imaginou quando recebeu a ordem divina correspondia à realidade.

–   O fato de a mulher estar à porta da cidade a apanhar lenha era, a um só tempo, a constatação de dois fatores que tornavam absolutamente improvável que aquela mulher poderia sustentar o profeta, humanamente falando.

–  O primeiro fator era de que, para a mulher estar à porta da cidade apanhando lenha, era de que a cidade viviaum período de dificuldades, a ponto de não haver sequer lenha disponível no seu interior para que as pessoas pudessem preparar seus alimentos. Era sinal de que a seca também tinha atingido Sarepta de Sidom e, portanto, não se tratava de chegar a um lugar que estivesse a salvo da estiagem.

– O segundo fator era de que, para a mulher estar à porta da cidade apanhando lenha, tinha-se a constatação de que se tratava de uma viúva carente, que pertencia às camadas populares, ou seja, uma pessoa necessitada, não uma viúva rica que tivesse criados e que fosse abastada.

–    Apesar desta visão que, a um só tempo, tornava a ordem divina ainda mais implausível, o profeta, que andava por fé e não por vista, chamou aquela mulher e pediu àquela mulher que lhe desse um pouco de água num vaso (I Rs.17:10).

–  O profeta caminhara muitos quilômetros desde o Querite até Sarepta de Sidom e estava sedento. Vemos aqui, mais uma vez, que o fato de Deus cuidar do Seu servo e de intervir na ordem natural das coisas neste cuidado não  significa  que  tornará  o  Seu  servo  imune  a  todas  as  consequências  naturais.  Assim  como  o  ribeiro  de Querite não deixou de secar por causa da estiagem, o profeta Elias também não deixou de ter sede porcausa da longa jornada e da seca que assolava tanto Israel quanto Sidom.

– Quando sofremos as consequências naturais das circunstâncias que nos cercam, não podemos jamais considerar que fomos esquecidos por Deus ou duvidarmos do poder de Deus. Deus é o Senhor, tem o absoluto controle de todas as coisas e, por isso, não necessita de anular ou retirar todas as leis que estabeleceu sobre a natureza para nos abençoar ou nos guardar. Faz exatamente aquilo que é necessário, de forma que, diante das adversidades existentes, devemos sempre manter nossa confiança em Deus, sabendo que jamais os Seus desígnios serão frustrados. Devemos ter a mesma convicção do patriarca Jó: “Bem sei eu que tudo podes e nenhum dos Teus pensamentos pode ser impedido” (Jó 42:2).

–   Diante do chamado do profeta, a viúva prontamente o atendeu. Isto demonstra que se tratava de uma pessoa disposta a ajudar o próximo, pois só uma pessoa com esta índole estaria disposta a dar água, num período de estiagem e, portanto, em que a água já se tornava um bem raro e precioso, para uma pessoa estranha e que, como Elias, se trajava de modo bem diferente das demais pessoas, dando a entender que se tratava de um estrangeiro, como o seu próprio linguajar o denunciou.

–   Esta demonstração de que se tratava de uma pessoa disposta a ajudar o próximo foi, também, percebida pelo profeta que, de modo sutil, primeiro experimentou a mulher, confirmando ser aquela que o Senhor indicara ser a que proporcionaria o seu sustento.

–   A prudência do profeta deve aqui ser enaltecida. Sabedor de que estava em terra estrangeira, sabedor de que iria morar na casa de uma viúva, uma situação delicada para um homem de Deus como ele, além do mais israelita, não foi o profeta direto ao ponto, que, certamente afugentaria a mulher, pois caso chegasse já dizendo a ela que deveria ser sustentado por ordem do Senhor, isto criaria embaraços que seriam de difícil transposição. O profeta, portanto, tão somente pediu água para aquela mulher, gesto suficiente para confirmar que era ela a pessoa quem deveria sustentá-lo consoante a orientação divina.

–   A prudência é característica que tem faltado em muitos servos de Deus. O Senhor Jesus, mesmo, em uma parábola, disse que os filhos deste mundo são mais prudentes que os filhos da luz (Lc.16:8), constatação que nos obriga a pedirmos a Deus, a cada dia, que nos dê prudência, sabedoria, a fim de saibamos viver num tempo tão difícil quanto o que estamos, pedido este que Tiago nos assegura que será prontamente atendido pelo Senhor (Tg.1:5).

–   A prudência, diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é a “virtude que faz prever e procura evitar as inconveniências e os perigos; cautela, precaução”, é a “previsão”, ou seja, “ a visão antecipada”. Somente tem prudência aquele que vê antecipadamente, ou seja, aquele que vê por fé e não por vista. Trata-se, portanto, de uma virtude essencial para quem tem comunhão com Deus. Não é por outro motivo que as Escrituras consideram que a prudência seja “a ciência do Santo” (Pv.9:10), ou seja, somente tem prudência, em seu sentido pleno, aquele que conhece a Deus, que tem intimidade com Deus.

–   Era o caso de Elias que, por ter comunhão com o Senhor, agiu prudentemente, não revelando, de pronto, a palavra profética para aquela viúva, mas, antes, verificando se se tratava de uma pessoa disposta a ajudar um necessitado, apesar de ela mesma ser uma necessitada.

–   Era por causa da disposição que a viúva tinha de ajudar o necessitado que ela havia sido escolhida pelo Senhor para ser amparada e sustentada durante aquele período da longa seca. O Senhor contemplara a sua disposição, pois conhece os corações de todos os homens e, por causa de seu desprendimento, apesar de sua situação de penúria, dentre tantas mulheres de Israel, foi a escolhida para ser o alvo da Providência Divina.

–    Temos esta mesma disposição da viúva de Zarefate? Vejamos que aquela viúva era uma gentia, que não conhecia a Deus, mas que, mesmo assim, mesmo diante de um período de seca e de estar à beira da morte por causa da sua necessidade, não pensou duas vezes em parar de apanhar lenha e ir buscar um pouco de água num vaso para um desconhecido que a chamara à porta da cidade.

–    Nós, porém, além de pertencermos ao povo de Deus da atual dispensação, ou seja, à Igreja, temos um mandamento dado pelo Senhor Jesus de amarmos ao próximo como a nós mesmos (Lc.10:27), lembrando que próximo é qualquer pessoa, como o Senhor nos ensinou na parábola do bom samaritano (Lc.10:30-37)..

–  Depois que a mulher lhe trouxe água para beber, bem mostrando a sua disposição de ajudar a quem necessita, o profeta a chamou mais uma vez e, desta feita, lhe pediu um bocado de pão (I Rs.17:11).

–  Diante deste pedido do profeta, a mulher abriu seu coração para revelar àquele estrangeiro desconhecido que, desta vez, não poderia atender ao pedido que lhe era formulado, visto que nem um bolo ela possuía, senão somente um punhado de farinho numa panela e um pouco de azeite numa botija, razão pela qual tinha ela apanhado dois cavacos para preparar aquela que seria a sua última refeição, juntamente com seu filho, para que eles comessem e depois morressem (I Rs.18:12).

–   É importante notar que, em sua declaração, a viúva se dirige ao profeta, sem saber de quem se tratava, mas que era um israelita, saudando em nome de Deus: “Vive o Senhor teu Deus”. A mulher, então, reconheciaem Elias um israelita e, pela sua expressão, já estava convencida de que toda aquela seca era obra do Deus de Israel e que, diante da seca, o Senhor era o único e verdadeiro Deus, não, Baal, que fora impotente para evitar aquela situação.

–   Esta expressão da viúva mostra-nos, claramente, que a viúva, embora fosse gentia, tinha aprendido com a seca que o Senhor era Deus. Esta expressão era o suficiente para o profeta entender que, apesar de gentia, aquela mulher era, sim, a viúva que Deus havia ordenado que o sustentasse durante o restante do período da estiagem.

–   Aquela mulher tinha consciência de que o Senhor era Deus, mas, a exemplo do próprio profeta, não tinha consciência de que Deus é Deus de todas as nações e não somente de Israel. Sendo natural de Sarepta, que pertencia a Sidom e que adorava a Baal, aquela mulher tinha a certeza de que não sobreviveria à seca, porque estava condenada à morte, dentro da mentalidade existente naquele tempo de que cada nação tinha os seus deuses e que um deus de outra nação não ajudaria a quem não fosse da nação que o havia adotado.

–   Embora tivesse reconhecido o poder de Deus sobre a natureza, aquela mulher não era capaz de achar que Deus pudesse sustentá-la, achava-se indigna de desfrutar da proteção e do livramento do Senhor.

–    Muitos, na atualidade, têm o mesmo pensamento daquela mulher. Até reconhecem que Deus existe, que Deus tem controle sobre todas as coisas, mas se acham por demais indignas para receber o amparo e a proteção do Senhor. A estes, devemos nós, aqueles que já estamos a desfrutar da graça e da misericórdia de Deus, mostrar-lhes que Deus é amor, que Deus ama o pecador e está pronto a nos perdoar e a nos abençoar. Temos feito isto?

–   A mulher era disposta. Tinha saído de sua casa à cata de cavacos para fazer a última refeição para si e para seu filho. A perspectiva da iminência da morte pela fome não a pôs em depressão, não a fez ficar desanimada a ponto de nem sequer sair de casa para buscar os gravetos com os quais faria a sua última refeição. A morte era iminente, mas, mesmo assim, ela saiu e foi buscar os gravetos para preparar, pela última vez, algo para comer.

–   Não cremos que tivesse falado a seu filho da situação em que se encontrava. Cremos que, a exemplo da mulher sunamita, embora ciente da situação periclitante em que se encontrava, mantinha-se equilibrada e não demonstrava a sua ansiedade e aflição. Não tinha mais esperanças, mas não mostrava o seu desespero aosoutros.

–   Temos agido desta maneira em meio às turbulências da vida, amados irmãos? Aquela mulher era gentia, não conhecia a Deus, era viúva, mas se comportava com equilíbrio e sobriedade, evitando que seu filho se desesperasse. E nós, que, como filhos de Deus, temos o fruto do Espírito que tem, entre suas qualidades, a temperança, ou seja, o domínio próprio, o autodomínio? Temos tido este mesmo equilíbrio já que, como cristãos, somos portadores de esperança, ao contrário daquela mulher?

–   A viúva somente disse a sua real situação para justificar àquele israelita porque não poderia lhe dar pão, como havia lhe dado água. Não se tratava de um desabafo, de uma manifestação histérica, mas tão somente de uma justificativa para a falta de auxílio diante do pedido do profeta.

–    Estas palavras da viúva também mostram a cada um de nós que, embora tenhamos sempre de ajudar o necessitado, tal ajuda tem um limite, qual seja, o de não comprometer o nosso próprio sustento. A mulher não foi recriminada pelo profeta pela sua resposta de impossibilidade de ajuda em virtude da sua própria carência. Isto deve nos servir de lição, pois devemos amar o próximo como a nós mesmos, não mais do que a nós mesmos.

–   Esta declaração da mulher serviu de mais um teste para a fé do profeta. O profeta já havia percebido que se tratava de uma pessoa necessitada que estava a viver numa cidade igualmente necessitada, mas, agora, via que se tratava de uma mulher que estava na iminência de morrer de fome e que, ainda mais, tinha um filho para sustentar! Como poderia uma mulher em tamanha condição de pobreza ter sido encarregada por Deus para sustentar o profeta?

–  Uma vez mais, o profeta não desanimou, mas continuou a crer na palavra que o Senhor lhe dissera. O fato de estar diante de um caso extremo de miséria não abalou a fé do profeta que, ante a constatação desta situação, entendeu que era o momento de proferir a palavra profética, de mostrar àquela mulher a vontade de Deus para a sua vida.

–    O profeta percebera que se tratava de uma mulher que tinha disposição de ajudar o necessitado, como também uma mulher que demonstrava ter consciência de que o Senhor é Deus. Ante tais evidências, o profeta, movido pelo Espírito Santo, disse à mulher para que não temesse, mas que preparasse para ele um bolo pequeno e que, então, só depois, fizesse um bolo para ela e para seu filho, pois o Senhor Deus de Israel dizia que não faltaria farinha nem azeite enquanto não viesse chuva sobre a terra (I Rs.17:14).

–   Proferir uma palavra como esta era eloquente demonstração de fé em Deus. Como confiar que Deus poderia sustentá-lo através de uma gentia que acabara de dizer que estava preparando sua última refeição com seu filho? Como pedir de uma gentia que cresse em Deus e lhe preparasse um bolo pequeno, se o próprio povo de Israel não mais cria em Deus?

–   De forma surpreendente, aos olhos humanos, a viúva, ante aquela palavra do profeta, entendeu que oDeus de Israel também poderia ser o seu Deus. A viúva viu que aquele Deus que já tinha provado que era o Deus que controlava a natureza também estava disposto a sustentar uma gentia, uma súdita dos sidônios. A mulher, que já tinha certeza do poder de Deus, agora ficava sabendo que poderia ser protegida e guardada por este mesmo Deus.

–    A palavra profética de Elias, que era a própria Palavra de Deus, trouxera esperança àquele coração sem esperança de salvação. Assim também nós, como servos do Senhor, temos de levar a Palavra de Deus para aqueles que, mesmo reconhecendo o poder de Deus, mesmo tendo boa índole, não têm esperança de serem alcançados pelo Senhor em suas vidas.

–    Elias iniciou sua fala com um “Não temas”. Devemos, amados irmãos, levar ao mundo sem Deus e sem salvação uma mensagem de conforto, de esperança, uma palavra para que todos não tenham medo diante das circunstâncias cada vez mais adversas e perversas que estamos a enfrentar neste final da dispensação da graça, pois tudo está no controle do Senhor e precisamos tão somente estar debaixo da Sua mão.

OBS: Vale a pena aqui reproduzir, por sua biblicidade, as palavras do ex-chefe da Igreja Romana, João Paulo II (1978-2005), em sua homilia no início de seu pontificado: “Irmãos e Irmãs: não tenhais medo de acolher Cristo e de aceitar o Seu poder! (…)Não, não tenhais medo! Antes, procurai abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo! Ao Seu poder salvador abri os confins dos Estados, os sistemas económicos assim como os políticos, os vastos campos de cultura, de civilização e de progresso! Não tenhais medo! Cristo sabe bem “o que é que está dentro do homem”. Somente Ele o sabe! Hoje em dia muito frequentemente o homem não sabe o que traz no interior de si mesmo, no profundo do seu ânimo e do seu coração, muito frequentemente se encontra incerto acerca do sentido da sua vida sobre esta terra. E sucede que é invadido pela dúvida que se transmuta em desespero. Permiti, pois — peço-vos e vo-lo imploro com humildade e com confiança — permiti a Cristo falar ao homem. Somente Ele tem palavras de vida; sim, de vida eterna. …” (Homilia na missa do início do pontificado. 22 out. 1978. Disponível em:  http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/homilies/1978/documents/hf_jp-ii_hom_19781022_inizio-pontificato_po.html Acessoem 10 dez.2012)

–   As Escrituras trazem a expressão “não temas” por 365 vezes, uma para cada dia do ano, a nos demonstrar que, a todo instante, a todo momento, Deus está nos dirigindo esta mesma palavra que o profeta proferiu àquela viúva. Deus tem pleno interesse em nos tranqüilizar diante das adversidades da vida, em nos fazer lançar fora o medo e, com isso, permitir que o Seu amor possa nos alcançar, pois é o Seu amor que lança fora o medo (I Jo.4:18).

–   Outrossim, vemos que, antes da palavra profética, o profeta deu mais uma demonstração de prudência e de equilíbrio. Pediu que lhe fosse feito um bolo pequeno, ou seja, pediu que a mulher não usasse toda a farinha e todo o azeite para alimentá-lo. Elias era um homem de Deus, não um hipócrita que se aproveitava para explorar as viúvas, como os fariseus dos dias de Jesus (Mt.23:14).

–  O servo de Deus aproveita a oportunidade que Deus lhe dá para alcançar as bênçãos do Senhor, para usufruir do Seu poder, mas jamais é um oportunista, ou seja, alguém que se aproveita dos outros ou que tira, sempre que possível, vantagens pessoais de situações. Elias não queria tirar o pouco que tinha a viúva para si, para “se garantir”, mas, sim, aumentar a fé daquela mulher, pois sabia que ela era o instrumento da Providência Divina não só para ele mas para ela própria e seu filho.

–   Como temos nos comportado, amados irmãos? Como oportunistas, a exemplo dos fariseus dos dias de Jesus, ou como o profeta Elias, que, sabendo da oportunidade que Deus lhe dá para ser abençoado, torna-se uma bênção para todos os que o cercam? Pensemos nisto!

–   A viúva, diante daquela palavra do profeta, creu em Deus, creu que Deus não somente era Deus que controlava a natureza, mas também o Deus que a amava e poderia sustentá-la e fez conforme a palavra profética e trouxe o bolo pequeno para o profeta. Neste seu gesto, demonstrou as três virtudes teologais, as três disposições de caráter que o Senhor deixa aos Seus servos: o amor, a fé e a esperança.

–  O amor, que já havia sido demonstrado anteriormente quando do atendimento do pedido para matar a sede do profeta, pois se sensibilizou com a situação daquele forasteiro desconhecido. Ante a palavra profética, creu e primeiro fez o bolo pequeno para o profeta, primeiro buscou saciar a fome do próximo, antes da sua própria e da de seu filho. Mas, lembremos uma vez mais, fez um “bolo pequeno”, ou seja, não se privou totalmente de alimento por causa do próximo, não comprometeu a sua sobrevivência, ainda que fosse para uma última refeição.

–  A fé, pois considerou que o Senhor, a quem já reconhecia como único e verdadeiro Deus diante da seca sobre a terra, poderia, sim, providenciar a multiplicação da farinha e do azeite até que chovesse sobre a terra, algo inexplicável pela lógica humana, mas perfeitamente crível.

–   A esperança, pois, diante da palavra profética, a viúva viu que não iria mais morrer, que havia chance de sobrevida, pois fora alcançada pelo poder e pelo amor do Deus de Israel, que mostrara que não era apenas Deus dos israelitas, mas também Deus dela, uma súdita dos sidônios.

–   Amados irmãos, temos estas três virtudes teologais, que são disposições de caráter que não provêm de nós mesmos, mas, sim, do Espírito Santo que passa a habitar em nós quando servimos ao Senhor? Ou será que devemos hoje nos reconciliar com Deus para termos novamente estas “forças” que nos impulsionam ao encontro do Senhor?

–   Após a viúva ter feito o bolo pequeno para o profeta e levado a ele, foi e fez o bolo para si e para seu filho e percebeu que a farinha e o azeite não se acabaram, conforme a palavra do profeta. Sendo assim, acolheu o profeta em sua casa e, daquele dia em diante, passou a sustentá-lo, conforme o Senhor dissera a Elias no ribeiro de Querite.

 III – ELIAS RESSUSCITA O FILHO DA VIÚVA

– Elias passou a morar com esta viúva e seu filho. Era uma situação inusitada e que, certamente, causava comentários e incompreensões a todos os habitantes de Sarepta de Sidom. Como a viúva poderia acolher em sua casa um israelita?

–    Tais comentários não eram bons, naturalmente. Ante a circunstância da seca que havia sobre a terra e a constatação de que havia um embate entre Baal, o deus adorado em Sarepta de Sidom, e o Deus de Israel, o fato de se ter um homem de Deus na residência daquela viúva era interpretado como um fator de maldição para toda a cidade, que sofria terrivelmente com a seca.

–  O texto sagrado não é explícito, mas somos levados a crer que Elias não se identificara como sendo o profeta que havia proferido a palavra profética a respeito da seca. O que se sabia tão somente é que Elias era “um homem de Deus”, um entre os profetas do Senhor, o Deus que estava a provocar toda aquela situação de estiagem e penúria.

–   Como Elias era procurado por Acabe e Jezabel em todos os reinos e nações (I Rs.18:10), e, certamente, no reino de Sidom, onde governava Etbaal, o próprio pai de Jezabel (I Rs.16:31), à evidência, Elias não tinha sido identificado pelo povo de Sarepta, que via nele apenas um profeta do Senhor, o que já era um fator a incomodar os habitantes daquela cidade, algo que também passou a influenciar aquela viúva, que apesar de crer em Deus e de estar a experimentar a Providência Divina diariamente, não podia abandonar, de uma hora para outra, a mentalidade de seus conterrâneos. Afinal de contas, seu sustento e de seu filho decorriam do fato de que estava a sustentar o homem de Deus. Será que Deus realmente a amava ou apenas amava o israelita que era Seu profeta? Era isto que perturbava o coração daquela mulher, mesmo sendo sustentada dia após dia pelo Senhor.

–  O próprio profeta, embora obediente e fiel ao Senhor, também não devia se sentir confortável com esta situação, pois sabemos o espírito nacionalista que sempre caracterizou o povo de Israel. Além do mais, o profeta queria ver a restauração espiritual de seu povo e se encontrava em terra estrangeira, experimentando, é certo, a realidade de que Deus é Deus de todas as nações, mas, certamente, almejando sair de Sarepta de Sidom e retornar a Israel.

– É dentro desta situação incômoda vivida tanto pelo profeta quanto pela viúva que ocorre o inesperado: ofilho da viúva fica doente e a sua doença se agrava a cada dia, cada vez mais (I Rs.17:17).

–   O surgimento da doença no filho da viúva e o seu agravamento contínuo aumentaram, com toda certeza, os comentários contrários à presença de um profeta do Senhor em Sarepta de Sidom e reforçaram as teses de que a vinda daquele homem ali não era uma bênção mas uma maldição, mais uma maldição advinda do Deus de Israel contra Sidom.

–  Não nos esqueçamos, como registramos supra, que a grande seca levou o rei Etbaal a mandar que se fizessem seguidas preces a Baal a fim de que se pudesse ter chuva. Assim como em Israel, havia um grande esforço por parte do governo de Sidom para “aplacar a ira de Baal” e a iniciativa de Jezabel de destruir os profetas do Senhor em Israel era, sem dúvida, uma medida que tinha como objetivo dizer que eram os servos de Deus os responsáveis pela “má-vontade” de Baal em mandar chuva sobre a terra.

–   Baal era considerado o “deus da vida” e a doença do filho da viúva, doença inexistente até a chegada do profeta àquela casa era, para muitos, o sinal de que a presença daquele profeta do Senhor não era bem-vinda pela divindade fenícia que, acreditava-se, era quem “reinava” sobre as cidades pertencentes a Sidom, já que era a divindade adorada primordialmente pelo rei Etbaal.

–   As Escrituras não dizem quanto tempo durou a doença, mas não foi de um dia para o outro. Foi um longo processo de desgaste na convivência entre Elias e aquela viúva. Tanto ele quanto ela procuravam entender o sentido da doença daquele menino e não era difícil achar-se que isto se devia à presença do profeta em Sarepta de Sidom.

–   Este episódio traz-se importantes lições que devemos aprender para não cometermos o mesmo equívoco. A doença do filho da viúva era interpretada a todos como sinal de maldição, como um mal, como um fator de reprovação da presença do profeta em Sarepta de Sidom, mas, na verdade, como vemos no decorrer da história, foi o coroamento da manifestação da presença de Deus naquele lugar, foi o ápice da demonstração à viúva de que Deus a amava e lhe queria bem.

–    Quantas vezes não somos também levados a achar que consequências indesejáveis em nossas vidas, que perdas, tribulações, fracassos, frustrações não são um mal para nós, não são a prova de que Deus não está conosco ou deixou de nos abençoar? No entanto, não podemos nos deixar guiar pela nossa visão limitada, pela nossa mentalidade tacanha, mas saber que tudo o que nos sucede é para o nosso bem, para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados pelo Seu decreto (Rm.8:28).

–   O fato é que o filho da viúva adoeceu e a sua doença se agravou muito até o ponto de ele morrer ( I Rs.18:17). Diante da morte de seu filho, a viúva voltou a perder toda a sua esperança. Afinal de contas, seu filho era a garantia de sua própria sobrevivência, pois, totalmente desamparada, não tinha senão no filho a esperança de viver dignamente os seus últimos dias.

–  A viúva, então, dá vazão a todos os comentários e a tudo quanto havia sido dito ao longo da estada do profeta em sua casa, dizendo que a morte do seu filho era resultado de tal presença, pois, como mulher gentia, iníqua, o Senhor Deus de Israel viera matar o filho. A viúva quis dizer que nada tinha com o profeta, que não poderia ter comunhão com ele, pois era de outra nação e não poderia, assim, servir ao Deus de Israel (I Rs.17:18).

–  Diante da morte de seu filho, a mulher deixara de crer que o Deus de Israel poderia ser o seu Deus, que Deus a amava, que Deus a estava a sustentar por Seu amor para com ela e não apenas por causa do profeta. Ela achara que era um mero instrumento usado por Deus para sustento do profeta, mas que não era amada pelo Senhor, que a apenas estava “usando”, tanto que Se mantinha inimigo dela, a ponto de matar o seu filho diante de sua iniquidade, de sua condição de mulher gentia, de não israelita.

–    Muitos estão a pensar como esta mulher em nossos dias, principalmente aqueles que têm crido na falsa mensagem da teologia da prosperidade, segundo a qual nada de ruim ou mau pode acontecer a quem serve a Deus. Diante de uma adversidade, de uma perda, estas pessoas se acham pecadoras e incapazes de ser acolhidas pelo Senhor, daí porque ter acontecido algo mau em suas vidas. Que este episódio bíblico que estamos a estudar sirva para que estas pessoas percebam que Deus as ama independentemente das circunstâncias que nos advêm neste mundo passageiro, pois não servimos a Deus para ter descanso e felicidade neste mundo, mas, sim, a nossa felicidade está em sabermos que habitaremos nos céus onde já está o Nosso Senhor. Aleluia!

–   Ante aquele desabafo da viúva, o profeta não soube o que responder a ela, até porque também não tinha uma convicção plena de que Deus era o Deus de todas as nações. Até então sabia que o Senhor havia ordenado aquela mulher para sustentá-lo, mas não é difícil pensar que via naquela mulher apenas mais um instrumento imundo a serviço do Senhor, como tinham sido os corvos no ribeiro de Querite.

–   O Senhor, porém, queria mostrar ao profeta que aquela mulher era muito mais importante que os corvos ou do que a natureza. O Senhor queria mostrar ao profeta que o valor daquela mulher era o valor de um ser humano, o que de mais precioso existe na ordem terrena. Aquela mulher tinha uma dignidade diferenciada de todas as demais criaturas terrenas por se tratar de um ser humano. Precisamos, também, ter esta mesma consideração pela pessoa humana que tem o nosso Deus.

–    Sem saber o que responder para a mulher, o profeta tão somente pediu que se lhe fosse dado o filho e, tomando-o no seu regaço, levou para o seu quarto, onde habitava na parte superior da casa da viúva, e o deitou em sua cama (I Rs.17:19).

–   Notemos, amados, antes de mais nada, que Elias morava com aquela viúva e seu filho, mas tinha um quarto reservado, na parte superior da casa, ou seja, fazia questão de manter uma vida transparente e que demonstrasse a todos os habitantes daquela cidade a sua honestidade e a pureza de suas intenções.

–   Nos dias em que vivemos, de relativismo moral, de permissividade, muitos são os servos de Deus que não têm mais tomado os cuidados que devemos ter no relacionamento social, máxime para que sejamos pessoas acima de qualquer suspeita. Devemos fugir da aparência do mal (I Ts.5:22). Pouco importa para o servo de Deus se a sociedade hoje é mais liberal, se é mais tolerante. Devemos manter a mesma postura de nossos pais na fé e agir de forma a que não sejamos repreendidos na sociedade em que vivemos.

–  A mulher, apesar do desabafo, creu uma vez mais no profeta e entregou o seu filho para ele. Sua atitude mostra que, apesar de ter entrado em desespero e dado vazão aos pensamentos que circulavam na cidade a respeito do profeta, ainda manteve acesa uma esperança, ainda que tênue, de que o Senhor Deus de Israel poderia ampará-la.

–   Elias foi para o quarto, porque sabia que não tinha o que responder para aquela mulher. Ele mesmo estava confuso e tinha de lidar com esta situação incômoda. Somente Deus poderia esclarecer-lhe o que se passava. Elias, então, levou o menino para o quarto, deitou-o na cama e foi orar.

–   Já temos visto ao longo deste trimestre que Elias se destaca como um homem de oração. Aqui vemos, uma vez mais, o profeta indo falar com Deus, diante da perplexidade que tomara conta dele, diante da falta de perspectiva. O profeta rasga o seu coração e indaga ao Senhor porque havia afligido até aquela viúva, matando-lhe o filho (I Rs.17:20).

–   Elias sabia que Deus tinha o controle de todas as coisas, que se mostrara inclusive como Deus de todas as nações e, portanto, haveria Ele de ser também o Deus que tinha controle da vida, algo que os sidônios atribuíam a Baal.

–   Elias finalmente reconhece que Deus era Deus de todas as nações e não somente Deus de Israel e que podia muito bem dar a vida de novo ao filho da viúva, pois era Ele e não Baal o verdadeiro Deus da vida.

–   Elias estendeu-se três vezes sobre o menino (I Rs.17:21), numa atitude em que pedia que a vida que ele possuía fosse transmitida ao menino, que era o Senhor que havia dado fôlego de vida ao primeiro homem (Gn.2:7). O profeta aqui mostra ser um conhecedor das Escrituras, alguém que bem sabia o que Deus havia revelado ao Seu povo.

–   Ao se estender sobre o menino e tentar renovar-lhe o fôlego de vida, o profeta como que busca reproduzir o ato da criação do homem, numa atitude de reconhecimento de que Deus é o Deus de todos os homens, o único dono da vida, Aquele que poderia fazer a alma do menino tornar para ele.

–   Até aqui não havia relato algum de ressurreição de mortos pelo Senhor. Elias, convicto de que Deus era o único e verdadeiro Senhor, tinha plena certeza de que aquela era uma ocasião para que Deus mostrasse que Ele era Deus e não, Baal. Ora, seu ministério tinha esta finalidade e pouco importava se isto seria mostrado para uma mulher gentia e não para o povo de Israel.

–  Elias orou a Deus porque cria no poder da oração, porque sabia que Deus ouve ao Seu povo e está pronto a intervir quando se faz necessário para a Sua glória. Era precisamente esta a oportunidade para que Deus Se mostrasse aos moradores de Sarepta de Sidom não como instrumento de maldição, mas como o único e verdadeiro Deus e instrumento de bênção, como o Deus da vida e não, da morte.

–    Elias, mesmo tendo comunhão com Deus, mesmo sendo Seu profeta, não fez qualquer “determinação”, “declaração” ou “decreto”. Muito pelo contrário, clamou ao Senhor, pediu com insistência, sabendo que só Deus é o Senhor e que, apesar de toda sua experiência com Deus, não passava de um servo.

–   Temos esta consciência a respeito do poder da oração? Quando nos ensinou a este respeito, Tiago, o irmão do Senhor, fez menção de Elias, dizendo que, apesar de ser ele um homem sujeito às nossas paixões, orou e não choveu e, depois, orou e choveu, concluindo seu ensinamento de que a oração de um justo pode muito em seus efeitos (Tg.5:14-18).

–  Muitos têm se esquecido do poder da oração em nossos dias. Esquecem-se de que estão a servir a Deus que é Todo-Poderoso, que tem todo o poder nos céus e na terra e que está pronto a nos ouvir a atender os nossos clamores. Correm para um lado e para o outro, quando deveriam tão somente correr aos pés do Senhor Jesus. Vamos orar, a oração do justo pode muito em seus efeitos!

–   Não sabemos quanto tempo Elias ficou em seu quarto orando, mas também não foi coisa de segundos ou de minutos. Só se estender sobre o menino, Elias fez três vezes. Quando o texto sagrado diz que o profeta clamou, é que porque a situação foi de intensa batalha espiritual, de intensa oração. O fato é que o profeta foi ouvido e o menino reviveu. Aleluia!

–  Devemos, amados, buscar a Deus mais e mais. Poucos são os que cristãos se dizem ser que hoje se dedicam à oração. Os cultos de oração são os menos frequentados em nossas igrejas locais e as vigílias se tornaram hoje grandes ocasiões para que se faça comércio e entretenimento, não havendo, em alguns lugares, nem sequer um momento de oração. Como está a nossa vida de oração, amados? Os crentes chineses, seguindo a tradição de seu país de aforismos e provérbios, cunharam um que vale a pena aqui transcrever: muita oração, muito poder; pouca oração, pouco poder; nenhuma oração, nenhum poder”. Qual é a nossa situação?

–     Diante da ressurreição do menino, repetimos, o primeiro milagre de ressurreição registrado nasEscrituras Sagradas (e, por isso, os saduceus não criam na ressurreição, pois como eles aceitavam apenas os cinco livros da lei de Moisés, diziam que como lá não estava registrado caso algum de ressurreição, ela inexistiria), Elias chamou a mulher e lhe entregou o filho, dizendo que ele vivia (I Rs.17:23).

– A mulher, então, reconheceu que era alvo do amor e do poder do Deus de Israel, que não fora simplesmente “usada” pelo Senhor para sustento do profeta, mas que também tinha sido alcançada pelo Seu amor, apesar de não ser israelita. Suas dúvidas quanto a Baal se dissiparam por completo; só havia um Deus, o Deus de Israel, que era, inclusive, o dono da vida. Com efeito, segundo a mitologia, Baal era morto e tinha de ser ressuscitado, mas o Deus de Israel não só não morria, como ressuscitava os mortos.

–   Diante desta constatação, a mulher reconheceu também que Elias era um homem de Deus e que não era instrumento de maldição, mas, sim, instrumento de bênção e disse que, a partir de então, via nele um homem de Deus e que a palavra do Senhor na sua boca era verdade (I Rs.17:24).

–   Esta declaração da mulher causa-nos certa surpresa. Como, tendo sido sustentada todo aquele tempo pela palavra do profeta; como, diante da milagrosa multiplicação da farinha e do azeite, segundo a palavra do profeta, só agora aquela mulher o reconhecia como homem de Deus e passava a dar crédito às suas palavras como sendo a palavra do Senhor em sua boca?

–  Apesar desta surpresa, vemos aqui que somente a partir daquela ressurreição, a mulher deixou de dar guarida aos comentários e pensamentos contrários à natureza da missão do profeta e aos propósitos divinos de sua estada em sua casa. Somente ao ver que a vida estava sob o controle do Deus de Israel é que aquela mulher pôde se assegurar que Deus era o verdadeiro e único Senhor e que Elias, um profeta seu.

–   Apenas sinais e milagres, amados irmãos, não produzem fé nas pessoas. É preciso que elas tenham contato com a vida, que tenham um encontro pessoal e verdadeiro com Cristo Jesus, que passem da morte para a vida para que O reconheçam como Senhor e Salvador.

–   Queridos irmãos, assim como Elias, precisamos ser homens e mulheres de oração, que tenham condição de ser ouvidos pelo Senhor e que transmitamos vida a todos quantos jazem espiritualmente mortos neste mundo sem Deus e sem salvação. Enquanto não levarmos vida para estas pessoas, jamais elas reconhecerão que Jesus é o Senhor e Salvador de suas vidas. Levar a vida nada mais é que levar a Cristo, pois “n’Ele estava a vida e a vida era a luz dos homens” (Jo.1:4).

–   Se formos homens e mulheres de oração, homens e mulheres guiados pelo Espírito Santo, se nos despirmos da mentalidade humana, dos preconceitos criados pela cultura, certamente levaremos muitas almas ao encontro do Senhor. Estamos dispostos a isto?

Colaboração para o portal Escola Dominical – Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://portalebd.org.br/classes/jovens-e-adultos/item/2045-1%C2%BA-trim-2013-li%C3%A7%C3%A3o-6-a-vi%C3%BAva-de-sarepta-i

 

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